quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Rogério Reis > Vavá encontra Magalhães Pinto

Transcrição do depoimento de Rogério Reis, gravado em 07 de maio de 2007.

Escolhi também a foto do encontro do Magalhães Pinto, antigo presidente do Banco Nacional e deputado, que foi fazer uma homenagem ao busto de João Pessoa, na praia de Botafogo. Quando o engraxate, que trabalhava ali, colado ao busto, percebeu a presença do Magalhães Pinto, correu na direção dele, o abraçou, passou a mão na cabeça dele...
Enfim, uma invasão, um abuso de intimidade... Que é uma foto interessante. Ela é surpreendente, porque ela quebra umas regras de convivência.



Qual é o valor que você dá a ela hoje em dia? Naquele momento teve algum significado especial?
Significado na história do país, naquele momento?... Eu acho que não. Ela foi vista só como uma foto desconcertante, que causa um estranhamento e que poderia ser traduzido como humor. Mas, ela não foi conseqüente a ponto de denunciar alguma coisa ou mudar o percurso histórico de alguém.
Ela representava aquele momento?
Ela foi feita dentro de uma atmosfera... Que a gente estava ainda dentro da ditadura, e havia, mais do que nunca, um distanciamento das autoridades com relação ao povo. Isso, com certeza!
E o Vavá, ele rompe com isso, parte na direção do Magalhães Pinto. Lembrando que o Vavá, o engraxate, estava alcoolizado. Então, isso também ajudou essa performance do Vavá. E ele parte para o Magalhães Pinto, chamando o Magalhães Pinto de Magá, como se fosse o amigo do botequim da esquina. Enfim, não reconhece no Magalhães Pinto a figura de um candidato, um político. Ele parte para o Magalhães Pinto numa ação, numa atitude, abusada. E isso quebra as regras. É interessante, gera um desequilíbrio, enfim, uma surpresa.
Eu acho que ela ficou no repertório das fotos bem-humoradas. É interessante por isso.

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Rogério Reis > nasceu em abril de 1954 no Rio de Janeiro e descobriu a fotografia nas oficinas de arte do MAM-Museu de Arte Moderna, nos anos 70. Trabalhou no Jornal do Brasil (1977), no O Globo (1980), na revista Veja (1983), e participou do Grupo F4 de fotógrafos independentes dos anos 80. Durante 3 anos seguidos (85 a 87), fotografou Ayrton Senna para o Banco Nacional, a convite da agência de publicidade MPM. Foi durante 5 anos editor de fotografia do Jornal do Brasil (91 a 96). Em 1999 recebeu o Prêmio Nacional de Fotografia da Funarte. Inspirou e emprestou seu nome ao personagem do fotógrafo no filme Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, baseado no livro do escritor Paulo Lins. Em 2007 passa a integrar o grupo de fotógrafos do projeto da UNESCO, Our Place - the Photographic Celebration of the World's Heritage.É um dos fundadores da Tyba (1991), onde trabalha como editor de projetos especiais; autor do livro Na Lona, Editora Aeroplano (2001) e co-autor dos livros Revisitando a Amazônia de Carlos Chagas - Editora Fiocruz (1996) e Retratos de Outono - Editora Sextante (1999).

Um comentário:

Alfredo Herkenhoff disse...

Grande Guina, Grande Rogério Reis, eu conhecia Vavá, que me mostrou a foto na capa do JB em que ele aparece botando a sua imensa mão na ampla careca de "Magá"... Vavá não fez performance por estar alcoolizado, ele era alcoolizado - não estava alcoolizado. Parece uma pequena diferença, mas é enorme... Vavá certamente era de uma família nobre na África, tinha comportamento altivo de um rei ou principe ou herdeiro... Algo tão coplexo que nem seus filhos o compreendiam. Merecia ser tema de emredo, morreu como um indigente, largado na calçada com inchaço tipo elefantíase... Gostei muito de ver esta foto e gostaria muito de poder rever não apenas a maravilhosa foto da capa do JB, mas a sequencia de Rogério Reis com o Rei Vavá, que um dia me fez uma confidência estranhissima, desmentida 15 anos depois de sua morte pelo saudoso Walter Alfaite a respeito de um belo sambinha de empolgação... Depois conto detalhes... Primeiro quero ver a foto da mão na careca... A propósito de mão, Vavá tinha uma forma de segurar o copo que nunca vi em nenhuma outra pessoa, uma forma única, com os dois dedos extremos, o mindinho e o polegar...
Depois conto detalhes...
Grande abraço
Alfredo