quinta-feira, 25 de outubro de 2007

João Roberto Ripper > Editando Diretas-já!

Transcrição de trecho (4’25”) de depoimento de João Roberto Ripper ao autor, em vídeo, em 25/05/2005. Gravação depositada no LABHOI - Laboratório de História Oral e Imagem da UFF - Universidade Federal Fluminense, em Março de 2008..


Meu nome é João Roberto Ripper e eu sou fotógrafo-documentarista. E nessa época eu estava trabalhando como repórter-fotográfico. Trabalhei na Última Hora e trabalhei no O Globo. Especificamente na época das Diretas-Já eu trabalhava no jornal O Globo e havia uma insatisfação popular contra as matérias, que saíam na TV Globo e no jornal O Globo, que diziam respeito às questões da ditadura e às questões do movimento sobre as Diretas, sobre as eleições, no Brasil. Isso começou a dar alguma insatisfação entre os profissionais porque havia alguns casos de bloqueio do exercício profissional, uma indignação...
Quer dizer, as pessoas não estavam satisfeitas com a resposta, no dia seguinte (ou no mesmo dia, no caso da TV), do que ia ao ar ou saía nos jornais. Então, começaram a dificultar. Houve caso de impedir o trabalho, houve casos até de se virar o carro da TV Globo, ameaça de virar carro do jornal O Globo. E aí eu me lembro que conversamos, nós conversamos, alguns fotógrafos... Eu me lembro de um papo, até um papo com Aníbal Philot, que hoje é falecido, mas que era talvez o fotógrafo de mais expressão, à época, lá no Globo, e a gente comentando como é que a gente ia sair dessa, né?... Como é que a gente ia passar a determinar, de alguma maneira, o que fosse publicado...
E a discussão que a gente teve é que a gente precisava editar na hora de fotografar, isso muito antes. Então, assim, como fazer isso sem impedir a criatividade do fotógrafo?... Eu me lembro bem que a gente comentou, conversou, que este fotógrafo ia ter o cuidado de só trazer para o jornal material muito editado, que mostrasse o grosso, a multidão, e que detalhes dessas fotos ele fizesse com as suas próprias câmaras.
Isso, por quê?... Porque, se está em uma grande manifestação e se além de fotografar a manifestação, que é de uma expressão popular muito grande, você mostrasse detalhes (e esses detalhes são, por exemplo, a lateral do palco, ou algo assim), acabavam saindo fotos que mostrassem pessoas brincando, ou curiosidades, ou complementos dessa matéria, mas que não mostrassem grande número de pessoas.
Então eu lembro que na grande passeata da Rio Branco, o Philot foi fotografar, me lembro da gente comentando uma tática. Ele falou: “eu só vou fotografar de tele-objetiva”. E ele fez toda a passeata com tele, e só fotos mostrando aquela multidão comprimida, uma monstruosidade de pessoas. E eu me lembro que quando ele chegou com o material, pediram mais fotos. E foram mais fotos para a redação. Não satisfeitos, pediram os contatos e viram que tinha uma multidão enorme. E aí eu lembro que trocaram a manchete. Eles iam dar a mesma manchete... Ele iam dar menos gente do que na época tinha dado a Polícia Militar. E eles trocam a manchete, botam mais gente, que todas as fotos que eles tinham eram de multidão.
Então essa foi uma das coisas positivas, me lembro bem, a gente comentando, vibrando...

E é claro que eles deram o troco. Quando foi o grande comício das Diretas-Já, aí na Presidente Vargas, eu me lembro que eles estipularam alguns repórteres especiais para ficar junto dos fotógrafos especiais, em vários pontos da Pres. Vargas, e dando... mandando fotos desde o início, né?... Com todas as etapas, é óbvio que você tem gente chegando, você tem o movimento ainda fora do seu apogeu... E aí O Globo dá um número muito menor do que o número de pessoas que tem na manifestação do comício pelas Diretas. Eles deram, se não me falha a memória, menos gente do que deu a Polícia Militar.



Então é um pouco do que era esse processo de luta, entre você tentar informar o mais próximo o que você sentia, e lutar contra um caminho que tentava minimizar, diminuir a informação.

João Roberto Ripper > ingressou na carreira de repórter-fotográfico em 1972, aos 19 anos de idade, na Luta Democrática, o jornal de Tenório Cavalcanti. Passou em seguida pelo Diário de Notícias, a Última Hora, a sucursal carioca do Estadão e por O Globo, sem contar os muitos trabalhos como freelancer para vários outros jornais e revistas.Disposto a levar as pessoas a refletirem sobre a realidade brasileira, deixou O Globo e foi participar da criação da Agência F4, uma das agências que ajudou a “romper com a hipocrisia de que o jornalista é imparcial”.Deixando a F4, criou o Projeto Imagens da Terra, a fim de “seu grande sonho: a fotografia a serviço dos direitos humanos”. Registrou índios, seca no Nordeste, dramas sociais urbanos, exploração de carvoeiros e crianças, denúncias de trabalho escravo, entre outros temas.Após oito anos, deu partida, na mesma linha, a Imagens Humanas, projeto individual. Participa também do projeto coletivo Imagens do Povo, agência e banco de imagens do Observatório de Favelas, dando aulas na Escola de Fotógrafos Populares, no Complexo da Maré, Rio de Janeiro, para moradores de comunidades carentes, que fazem um trabalho documental sobre o local onde vivem.
Fonte: ABI Online, Em foco (http://www.abi.org.br/paginaindividual.asp?id=516)


2 comentários:

Didi Ribeiro disse...

ola, boa tarde,

estou fazendo um trabalho sobre a cobertura da idia na diretas ja! vc poe me auxiliar, ficaria uito grata


obrigada

Aguinaldo Ramos disse...

Amy,
entre em contato comigo pelo e-mail aaraujoramos@gmail.com e me diga o que precisa.
Abs,
Aguinaldo